Minha vida nunca mais foi a mesma

RolloverBackArrowHá mais de um ano atrás eu recebi um recado:  o Mario Prata quer conversar com você. Eu nunca tinha visto a ilustre figura. Eu sabia que ele tinha escrito o Besame Mucho e, é claro, Estúpido Cupido.

Tocou a campainha, e ele foi entrando e se apresentando e a minha vida nunca mais foi a mesma. A palavra sexo deixou de ser apenas o que designava a dádiva dos deuses pra se aguentar viver neste planeta, a única brincadeira dos adultos, pra se transformar num assunto profissional. Eu pensei — Ih, que chato! Mas, foi o seguinte: ele tinha tido a ideia louca de transformar o bestseller da Marta Suplicy numa peça. E eu, muito oferecido, já fui aceitando o convite pra dirigir. Eu não fiz a pergunta que martelava a minha cabeça ( — por quê eu?) com medo dele não saber a resposta. Depois eu soube que ele tinha ido assistir a minha peça “Parentes entre parênteses” e tinha achado que tinha tudo a ver. A Marta, também.

Tudo neste projeto me fascinava: dirigir uma peça escrita por outra pessoa (é a primeira vez). Conhecer a estrela das manhãs de milhões de telespectadores (eu nunca tinha visto, porque sou notívago convicto). Trabalhar com o Mario, um autorzão. E participar de um grandioso espetáculo all talking-all-singing-all-dancing. E o assunto, é claro, que pode-se até mentir, mas diz respeito e interessa a todos. Mas quanto mais se conversava, mais se tornava claro o que era mesmo este trabalho: um desafio.

Mexer com fragmentos de histórias reais sem desrespeito ou leviandade. Apresentar uma síntese do pensamento de uma importante sexóloga sem ser didático ou superficial. Tratar do assunto de uma maneira que não fosse grosseira, pudica, sensacionalista ou oportunista: estas eram as dificuldades.

Para, como se diz em inglês, tornar uma longa história curta, a Marta entrou com o conteúdo e sua experiência no assunto. O Mario com a estrutura dramática e narrativa, seu talento em mexer com palavras. E eu com uma concepção cênica que nasceu de uma síntese de tudo que eu já tinha feito antes em teatro (minha experiência no Pod Minoga Studio, e como aluno, assistente e co-autor de Naum Alves de Souza), uma continuidade do meu trabalho como diretor (misturando comédia e drama, exagero e sutileza, realismo e fantasia e usando recursos de linguagem cinematográfica) e coisas que eu já tinha experimentado mas nunca usado (simultaneidade de ação, superposição de músicas, mudanças bruscas no tom do espetáculo).

Esta concepção foi sendo modificada e moldada com mudanças no texto e na própria estrutura dramática do texto, novas músicas, e tudo que compõe um espetáculo teatral, feito por mais de vinte pessoas: as interpretações dos atores, os figurinos, o cenário, a luz, o som, os adereços, etc., etc., etc., etc., etc., etecetera numa tentativa de fabricar ilusões a partir de dados reais, de proporcionar ao público uma viagem à uma outra dimensão através de novos conhecimentos e entretenimento.

Flavio de Souza
Diretor

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