Texto de Mario Prata para o programa da peça

RolloverBackArrowAopapai ler o livro Conversando Sobre Sexo, de Marta Suplicy, duas coisas me vieram à cabeça. Primeiro a ignorância sexual do brasileiro. Segundo: em cada uma daquelas cartas de seus ouvintes no programa da Rede Globo, havia um personagem sofrido, uma pessoa angustiada, uma repressão, uma história do Brasil de hoje. Quando lhe propus escrever uma peça juntos, sobre aquele material, me lembro da sua reação: meu livro, uma peça de teatro?

Mais assustado fiquei quando tive acesso a mais de três mil cartas recebidas por ela. Eram três mil personagens à procura de dois autores. A primeira providência foi tomada: só usaríamos cartas que representassem problemas de milhares de brasileiros e nunca alguma carta com um problema específico e/ou particular.

O que pretendemos com a nossa peça Papai & Mamãe (Conversando Sobre Sexo) é fazer um mapeamento da sexualidade no Brasil de hoje. E é justamente aí que mostrarmos o quanto a repressão e a falta de cultura contribuem para a estagnação de uma sociedade. Quantos crimes não são cometidos diariamente em nome do sexo, da honra, da vaidade e mesmo da ignorância? As autoridades brasileiras, os ministérios, os políticos, os professores fecharam os olhos para o problema do sexo no Brasil. Sexo ainda é tratado como uma coisa suja, menor, que não se deve nem tocar no nome ou assunto.

O que queremos é chamar a atenção de todos para a infelicidade geral de milhões de brasileiros, oprimidos, reprimidos e mal amados.

A peça é uma sucessão de cartas, de depoimentos desses brasileiros. Não acrescentamos nada, não mudamos nada Apenas dramatizamos, roteirizamos estes personagens. Tudo que está no palco, é verdade. Pela primeira vez escrevi uma peça onde não criei um único personagem, onde não escrevi uma única linha.

Mario Prata

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