Papai & mamãe: Conversando sobre Sexo (1984)

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Ficha técnica RolloverBackArrow
Texto de Mario Prata para o programa da peça
Depoimento do diretor Flavio de Souza 
IMPRENSA Peça faz "mapeamento da sexualidade do brasileiro" (Estadão, outubro de 1984)

Quando o Prata me propôs escrever uma peça baseada no meu livro Conversando sobre Sexo, eu achei que ele estava louco. Como fazer uma peça de um livro didático, de depoimentos? Ele me respondeu: “Por isso mesmo: cada carta é um drama em si mesmo.” Na hora percebi a possibilidade que ele se referia, mas também me veio forte a responsabilidade que tenho por esses testemunhos.

Lidar com isso de maneira digna e, ao mesmo tempo, que propusesse reflexões sobre o tema me pareceu extremamente difícil e impossível de transferir essa responsabilidade a outro. Disse então que poderia pensar sobre o assunto, mas somente em base de co-autoria.

Começamos a conversar. Prata passou dias no meu escritório lendo centenas de cartas, ficando cada vez mais impressionado com o que descobria. O que no livro aparece como uma carta, assinada por uma pessoa (nome trocado, obviamente), corresponde a centenas de cartas muito parecidas. A imensidão dos problemas, da angústia e ignorância da nossa população o invadiram de forma a repensar a proposta. Drama ia ficar demais. A situação, os depoimentos são um drama em si mesmos.

Eu até hoje sempre falei de sexo de maneira muito séria. Não dava para ser de outra forma quando você está quebrando tabus e preconceitos seculares. Entretanto, sempre achei que se aprende muito com o riso e com a possibilidade de se rir das próprias besteiras. É uma forma de conscientização. Daí a peça se transformar numa comédia foi um pulo. Prata conhecia o Dagomir e Rogério que são jovens e extremamente criativos e poderiam fazer músicas no espírito que queríamos: virou comédia musical.

Minha intenção? Que a peça divirta muito e faça pensar sobre os valores sexuais e inspire um sexo sem grilos. Ivone e Jorge, nossos personagens principais, são um casal de meia idade que me escreveu para dar testemunho de seu encontro nessa idade. Sua carta, publicada na pág. 956 do Conversando sobre Sexo, fala de uma vida sexual cheia de problemas e tabus. A descoberta do amor e dos prazeres sexuais veio aos 50 anos. É um testemunho de esperança. Utilizamos centenas de depoimentos de adolescentes e pessoas de idades variadas para montar as dificuldades que imaginamos Jorge e Ivone, como dois brasileiros, viveram no desenvolvimento de sua sexualidade.

De novo, digo, há esperança, mas não é preciso tanto sofrimento.

Marta SuplicyRolloverBackArrow