Os Viúvos é um filme. Eu diria que do Almodóvar, porque é cheio de personagens engraçados e tem mais sexo e humor do que policiais clássicos.
Os Viúvos é muito visual: as praias, os edifícios, as casas, as estradas, as fronteiras, os interiores. Mario Prata pinta as imagens com muita força. Isso é um dos aspectos incluídos na qualidade “escrever bem”.
A construção dele, a estrutura narrativa, é muito engenhosa.
O que me diverte é o recheio dessa estrutura. O que os personagens pensam, como eles falam. As teorias do Escobar sobre as mães são lindas!
Fiquei impressionada com a capacidade do Prata de aproveitar tudo na literatura: a geografia, o nome da rua, o passado bancário, a técnica de revestimento asfáltico, o seu Abóbora, a literatura dos outros.
Prata exerce profissionalmente o dom da observação. E essa capacidade define um escritor.
Nomes: essa é uma outra viagenzinha muito pessoal do autor. O prazer de batizar certo.
Mario Prata, com Os Viúvos deu o melhor destino possível aos golpes que o destino (um contador e a Receita Federal) lhe pregou. Transformar o sofrimento em literatura, e com humor, é para poucos, e ele tem esse privilégio.
Marta Góes
Escritora