Saber que a agenda telefônica do Mario Prata ia virar livro estimulou algumas paranóias:
— Agora é tarde. A situação ridícula que ele testemunhou, aquela gafe que você negava já estão impressas. E o que é pior, todo mundo vai saber, porque os livros do Prata vendem muito.
Os vaidosos animaram-se:
— Aquela sacada brilhante, que ele adorou, e o meu gesto de desprendimento finalmente vão ser reconhecidos. Mas, como na prática todo mundo quer sair bem na foto, com o passar do tempo a curiosidade corroeu as seguranças.
— O Prata mostrou seu verbete? Não comentou nada sobre o meu?—perguntou-se muito nesses últimos tempos.
Os contemplados com consultas prévias tripudiaram:
— Para mim ele mandou o texto. Não mandou para você?!
Confesso que também fiquei desconfortável. Minhas mulheres e meus homens é um título alarmista para uma ex-mulher, não? Mas a aflição passou quando recebi o livro inteiro, ainda nas provas, e a encomenda de um prefácio. E a essa altura, todos já se acalmaram ou se desesperaram de vez, porque, otimista ou paranóico, a primeira coisa que você fez aqui foi procurar o seu nome no índice. Ou vai dizer que resistiu?
Este livro, ensina o autor, pode ser lido em ordem alfabética, em ordem cronológica ou, ainda, pela sequência dos nomes que um verbete remete para o outro. Pode ser lido assim e de infinitas maneiras, que cada leitor inventará de acordo com as suas próprias perguntas. O voyeur vai pular de famoso em famoso, em busca de bastidores — e não vai se frustrar. O enturmado vai querer descobrir depressa quem entre seus conhecidos virou verbete. E o leitor tranquilo, que deseja apenas boas histórias — é isso, afinal, o que oferecem os bons escritores —, vai se deliciar com 748.
É provável que exista para todos um prazer extra: identificar um pouco de sua própria vida misturada aos nomes que conhecem ou de que apenas ouviram falar, a lugares que também frequentaram e a acontecimentos dessas décadas que todos nós vivemos.
Os leitores perceberão ainda, no conjunto variado desses verbetes, a biografia do autor. É a história de um menino do interior que chegou a São Paulo tão assustado que esqueceu no táxi a mala com as roupas novinhas que a mãe tinha preparado. É a história de um escritor que premia seus leitores com a delícia do riso e com a bênção da beleza (preste atenção no jeito como ele conta que alguém morreu). É a história de um homem que enriqueceu a vida de tantos encontros, com tantas pessoas, que ao passar os olhos pela agenda de telefones compreendeu, satisfeito, que sua história dá muitos, muitos livros.